A pré-candidatura de Ricardo Cappelli ao Governo do Distrito Federal passou a enfrentar um novo e relevante questionamento institucional após a área técnica do Tribunal de Contas da União (TCU) apontar indícios de uso indevido da estrutura da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) para fins de promoção pessoal. O alerta, feito em análise preliminar, coloca sob escrutínio a conduta do dirigente e levanta dúvidas sobre o respeito aos princípios que regem a administração pública.
O foco da apuração é um contrato de comunicação da ABDI que, após um aditivo de 25%, alcançou o montante de R$ 8,1 milhões. Segundo os técnicos do TCU, há sinais de que a ampliação contratual ocorreu sem justificativa técnica consistente e teria sido acompanhada por ações de comunicação com viés político e personalista, destoando das finalidades institucionais da agência.
De acordo com a avaliação da unidade técnica, a estrutura administrativa da ABDI pode ter sido utilizada para atividades de interesse direto do presidente, incluindo a gestão de impulsionamentos pagos em redes sociais por servidores e terceirizados da própria agência. O conteúdo promovido, conforme apontado no relatório, apresenta caráter predominantemente político e opinativo, com forte associação à imagem pessoal de Cappelli, o que reforça a suspeita de desvio de finalidade.
A representação que originou o processo foi apresentada pelo deputado distrital Daniel de Castro (PP) e foi acolhida para análise pela 4ª Diretoria do TCU, que recomendou a abertura de prazo para manifestação da ABDI. O caso agora aguarda a avaliação do relator, ministro Bruno Dantas, antes de eventual apreciação pelo plenário da Corte.
Embora o TCU ainda não tenha adotado medidas cautelares, o conteúdo do parecer técnico é suficiente para gerar desgaste político e acender um sinal de alerta sobre a condução da agência. Em um cenário pré-eleitoral, o uso de uma entidade pública para ampliar visibilidade pessoal compromete não apenas a imagem do dirigente, mas também a credibilidade da instituição.
Cappelli nega irregularidades e afirma que a comunicação pessoal não se confunde com a da ABDI. No entanto, os indícios apontados pelos técnicos do tribunal indicam que a separação entre gestão pública e projeto político pode não ter sido devidamente observada.
Mais do que um embate político, o episódio coloca em debate a responsabilidade de dirigentes de órgãos públicos que aspiram cargos eletivos. O uso de recursos, contratos e estruturas financiadas pelo erário exige rigor, impessoalidade e transparência. Quando essa fronteira é ultrapassada, o risco não é apenas jurídico, mas também institucional — e o custo recai sobre a confiança da sociedade.
